quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Eu te ligo!

Das muitas alegrias que tenho em ser mulher e me relacionar com outras mulheres, bem no topo da lista está a liberdade de poder agir de acordo com minhas vontades e sentimentos. Isso vai para além de fundalmente  ser fiel à minha orientação em termos afetivo-sexuais; significa estar livre de papéis a que ainda se prendem os casais homem-mulher e que, ah, simplesmente me enchem a porra do saco.

 Anos 90.
Um tempo sem e-mail, sem Internet, sem celular.
Quantas tardes da minha adolescência perdi, ansiosa, ao lado do telefone, esperando ele ligar.
E nada.
Saía de casa. Na volta: “Tem algum recado pra mim?”.
Não tinha.
Porque no relacionamento homem-mulher o papel do primeiro telefonema é dele, e você senta ao lado do criado-mudo, pernas cruzadas sob as anáguas de seu vestido de época, bordando uma toalhinha em ponto cruz, enquanto, pacientemente, espera.
Caso vocês tenham se conhecido no sábado, antes de quarta-feira esta ligação provavelmente não irá acontecer. Quando ele telefonar, se telefonar, será para sondar sobre o próximo fim de semana. E o novo ”eu te ligo” do rapaz determinará mais uma sessão de chá de cadeira para a mocinha do século dezenove.

 Anos 2000.
Entre as mais queridas memórias sobre o dia em que, pela primeira vez, beijei uma garota, está a nossa despedida. No ponto de ônibus, um selinho. E, antes de subir no 432, eu disse:
- Eu te ligo.

Desde então, nunca mais bordei em ponto cruz.
By:Vertuan

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